Por Carlos Soares Rodrigues,
Divulgada na manhã desta quinta-feira pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira
registrou no mês de agosto alta de 0,7% em relação ao mês anterior.
Mesmo tendo sido considerado positivo pela imprensa minha
avaliação, quando olhado mais no detalhe, é de que o resultado confirmou o
cenário de enfraquecimento de nossa economia. Analisando o desempenho ano
contra ano podemos notar que a queda foi intensa: -5,4% em relação a agosto de
2013. A alta mensal se justifica apenas pela fraca base comparativa, vale
lembrar que nos meses de junho e julho tivemos a realização da Copa do Mundo e,
portanto, menos dias úteis.
Dentre os segmentos que apresentaram as maiores quedas
destacaram-se aqueles ligados ao setor de bens duráveis como automóveis,
caminhões e ônibus, móveis e maquinários (vide figura 1). Estes segmentos são
altamente cíclicos, ou seja, respondem diretamente ao desempenho da economia.
Na ponta oposta, os segmentos que apresentaram as maiores
altas foram aqueles ligados ao câmbio ou que apresentam consumo inelástico (que independe do
nível de renda). A maior alta ficou para a fabricação de produtos de fumo cujas
exportações são favorecidas pela alta do dólar e cujo consumo não se altera dadas às características de seu público consumidor.
Farmoquímicos e
farmacêuticos, também considerados bens de consumo inelástico, continuaram
apresentando boa performance no mês de agosto. Cabe destacar que o desempenho
deste segmento reflete a mudança de perfil consumidor no país com a ascensão da
“nova classe média” que gerou uma demanda adicional por esses produtos pois, com
maiores cuidados a saúde, dificilmente sofrem alterações no consumo.
Já os
demais segmentos que compõem os top 5 são altamente ligados ao câmbio. Fabricação
de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis também se
explica pelo desenvolvimento da produção da Petrobrás em resposta aos
incrementos provenientes, possivelmente, do pré-sal. Neste caso vale aguardar
a divulgação de seus resultados referentes ao 3 trimestre de 2014.
Segue a
lista dos melhores desempenhos da produção industrial do mês de agosto-14 em
relação a 2013:
Apesar da deterioração dos indicadores de expectativa
empresarial, o aumento na aversão ao risco vivenciada recentemente tem levado a
desvalorização do real perante o dólar que, na minha avaliação, trará efeitos
benéficos à indústria. O efeito esperado é encarecimento dos produtos
importados no mercado doméstico e barateamento de nossos produtos no mercado
externo cujo desempenho econômico tem mostrado franca recuperação nas nações
mais desenvolvidas.
Vejamos por quanto tempo o dólar continuará permanecendo
nestes patamares, que a meu ver demorou em responder à deterioração de nosso
saldo em transações correntes verificado nos últimos anos. Espero, em alguns meses, uma reversão no
desempenho da indústria. Contudo, para este ano a recuperação da produção
permanece incerta diante das dúvidas em torno da definição da política econômica a
ser adotada a partir do próximo ano.
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