terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mercado de Taxas de Juros: 31/01/2011

A curva de juros futuros apresentou, na última semana, um aumento nos vértices (vencimentos) mais longos. Esse aumento pode ser explicado pelos seguintes fatores: adoção de uma postura mais branda do Copom em sua ata divulgada no último dia 27, incertezas em torno da política fiscal para os próximos meses e deterioração do cenário inflacionário.


Segundo Paulo Nepomuceno, estrategista da corretora Coinvalores, em matéria publicada no jornal Valor pela repórter Karin Sato, “o mercado entendeu, por meio da ata, que BC não vai subir tanto os juros no curto prazo, o que deve contaminar um pouco a inflação no longo prazo”. O temor do mercado é que as altas promovidas pelo Copom não sejam suficientes para conter o consumo, alimentando o aumento dos preços e forçando a autoridade monetária realizar apertos ainda maiores no longo prazo.

O descumprimento da meta de superávit primário – que é o volume economizado pelo governo para o pagamento dos juros da dívida pública – causou preocupações ao mercado acerca da expectativa de inflação para os próximos meses. Ao atingir um superávit primário de 2,78% em 2010, contra uma meta de 3,1%, o governo elevou o nível de incertezas quanto a sua capacidade de reduzir os gastos nos próximos meses. No entender dos agentes econômicos o aumento nos gastos do governo, que faz parte da demanda agregada de um país, pressiona a alta dos preços na economia e obriga a autoridade monetária elevar os juros para conter a inflação.

Além dos fatores mencionados acima, também contribuíram para a piora do cenário inflacionário a queda no desemprego e o aumento da renda no Brasil, a crise política no Egito – que vem trazendo ameaças ao escoamento da produção petrolífera do Oriente Médio - e a divulgação de indicadores favoráveis da economia norte americana – crescimento do PIB, aumento na renda e nos gastos em 2010 e a continuidade na recuperação da atividade manufatureira no mês de janeiro. Estes fatores, principalmente os dois últimos, pressionaram os preços das commodities na última semana e pioraram as perspectivas do cenário inflacionário para os próximos meses.

Podemos verificar no gráfico abaixo essa piora nas expectativas dos agentes de mercado ocorrida na última semana.


Portanto, a postura mais amena do Copom, sinalizada pela ata da última reunião, o aquecimento do mercado de trabalho e as incertezas em torno das medidas de contenção dos gastos do governo somados a crise política do Egito e aos indicadores de recuperação econômica norte americana corroeram as expectativas inflacionárias e das taxas de juros de longo prazo.

Referência bibliográfica

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