Tesouro Direto Hoje: Juros Futuros em Alta com Preocupações Fiscais e Leilão de Títulos
Tesouro Direto Hoje: Juros Futuros em Alta com Preocupações Fiscais e Leilão de Títulos
Por Carlos Soares, CNPI
O mercado de juros futuros registrou um avanço nas taxas no pregão de hoje. Para o investidor do Tesouro Direto, isso significa a oportunidade de travar taxas mais elevadas para novos investimentos, embora resulte em desvalorização (marcação a mercado) para quem já possui os títulos. Os fatores que impulsionaram essa alta foram principalmente as preocupações com o cenário político-fiscal doméstico e a grande oferta de títulos do Tesouro Nacional.
O Risco Fiscal Doméstico e as Taxas Longas
O principal vetor de pressão veio do cenário político-fiscal. A pesquisa Pulso Brasil/Ipespe, que mostrou uma recuperação na popularidade do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e os indícios de que o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode não se candidatar em 2026, foram recebidos com cautela.
A avaliação do mercado é que a manutenção da atual gestão reforça as preocupações quanto à evolução do quadro fiscal para os próximos anos. Tarcísio de Freitas é percebido como um candidato com maior potencial para implementar medidas de contenção de gastos públicos e melhora do equilíbrio das contas. A diminuição da expectativa de uma possível troca de governo diminui, na visão de muitos investidores, um cenário menos construtivo para a evolução do quadro fiscal.
Essa cautela se refletiu diretamente nas taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de longo prazo:
- O DI com vencimento para janeiro de 2027 subiu de 14,01% para 14,07%.
- O DI de janeiro de 2031 teve alta de 13,36% para 13,41%.
Pressão do Tesouro e Cenário Externo
Outro fator de peso foi o leilão de títulos prefixados realizado pelo Tesouro Nacional, que ofertou um lote considerado grande, totalizando 21 milhões de papéis. A gestão da dívida tem sido alvo de críticas por parte do mercado, que vê excesso nos lotes recentes, e essa grande oferta motivou uma pressão altista nas taxas.
No que tange à inflação, a leitura do IPCA-15 abaixo das expectativas trouxe algum alívio. No entanto, esse efeito foi limitado pelo cenário monetário mais amplo, pois o Relatório de Política Monetária do Banco Central (BC) reforçou uma postura conservadora, sinalizando a manutenção da Selic em patamar elevado por mais tempo, o que sustenta as taxas de juros de longo prazo.
Adicionalmente, no cenário externo, dados robustos da economia e do mercado de trabalho americano reforçaram a visão de que o Federal Reserve (Fed) manterá a política monetária restritiva por mais tempo. Com os juros longos americanos (T-note de 2 anos) também em alta (de 3,612% para 3,661%), o capital global exige taxas maiores para permanecer em países emergentes como o Brasil, o que contribui para a elevação das taxas locais.
Impacto no Tesouro Direto: Rentabilidade e Preços
O avanço das taxas de juros futuros se traduz em um ganho de rentabilidade para novos investidores, mas em queda de preço para os antigos. A ponta curta dos Prefixados e o Tesouro IPCA+ 2029 tiveram as maiores altas de taxa.
Tabela 1: Comparativo de Rentabilidade Anual (Taxas)
Título |
Vencimento |
Taxa (25/09/2025) |
Taxa (24/09/2025) |
Variação (p.p.) |
Tesouro Selic 2028 | 01/03/2028 | SELIC + 0,0501% | SELIC + 0,05% | +0,0001 |
Tesouro Selic 2031 | 01/03/2031 | SELIC + 0,1035% | SELIC + 0,10% | +0,0035 |
Tesouro Prefixado 2028 | 01/01/2028 | 13,34% | 13,24% | +0,10 |
Tesouro Prefixado 2032 | 01/01/2032 | 13,64% | 13,57% | +0,07 |
Tesouro Prefixado c/ Juros Semestrais 2035 | 01/01/2035 | 13,65% | 13,62% | +0,03 |
Tesouro IPCA+ 2029 | 15/05/2029 | IPCA + 7,84% | IPCA + 7,79% | +0,05 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2035 | 15/05/2035 | IPCA + 7,49% | IPCA + 7,50% | -0,01 |
Tesouro IPCA+ 2040 | 15/08/2040 | IPCA + 7,09% | IPCA + 7,11% | -0,02 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2045 | 15/05/2045 | IPCA + 7,23% | IPCA + 7,25% | -0,02 |
Tesouro IPCA+ 2050 | 15/08/2050 | IPCA + 6,97% | IPCA + 7,02% | -0,05 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2060 | 15/08/2060 | IPCA + 7,19% | IPCA + 7,22% | -0,03 |
Tabela 2: Comparativo de Investimento Mínimo (Efeito Marcação a Mercado)
Título |
Vencimento |
Preço Mínimo (25/09/2025) |
Preço Mínimo (24/09/2025) |
Variação (R$) |
Tesouro Selic 2028 | 01/03/2028 | R$ 174,18 | R$ 174,09 | +R$ 0,09 |
Tesouro Selic 2031 | 01/03/2031 | R$ 173,42 | R$ 173,33 | +R$ 0,09 |
Tesouro Prefixado 2028 | 01/01/2028 | R$ 7,54 | R$ 7,56 | -R$ 0,02 |
Tesouro Prefixado 2032 | 01/01/2032 | R$ 4,51 | R$ 4,53 | -R$ 0,02 |
Tesouro Prefixado c/ Juros Semestrais 2035 | 01/01/2035 | R$ 8,45 | R$ 8,47 | -R$ 0,02 |
Tesouro IPCA+ 2029 | 15/05/2029 | R$ 34,65 | R$ 34,70 | -R$ 0,05 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2035 | 15/05/2035 | R$ 42,13 | R$ 42,08 | +R$ 0,05 |
Tesouro IPCA+ 2040 | 15/08/2040 | R$ 16,49 | R$ 16,44 | +R$ 0,05 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2045 | 15/05/2045 | R$ 40,96 | R$ 40,86 | +R$ 0,10 |
Tesouro IPCA+ 2050 | 15/08/2050 | R$ 8,59 | R$ 8,49 | +R$ 0,10 |
Tesouro IPCA+ c/ Juros Semestrais 2060 | 15/08/2060 | R$ 39,24 | R$ 39,07 | +R$ 0,17 |
Conclusão para o Investidor: Os títulos Prefixados tiveram o maior avanço de taxas no dia, gerando uma excelente oportunidade de entrada. Nos títulos IPCA+ de longo prazo, notamos uma queda nas taxas (yields) e consequente alta nos preços, indicando uma busca por proteção contra a inflação e uma leve melhora no humor para o longo prazo. Este cenário reforça que o foco no longo prazo, mantendo o título até o vencimento, continua sendo a estratégia mais atrativa.